domingo, 1 de junho de 2008

Ciência e Arte



Parte

Concreto, milímetros, centímetros, circunferência
a minha parte ciência
Link, citação, método, ordem, referência
a minha parte ciência
Discussão, conclusão, evidência
a minha parte ciência
A nossa pesquisa atravessa as noites de outros estados, de sotaques enraizados e gostos engraçados – aqui a gente come assim; aqui a gente dança assim; aqui a gente faz assim.
Atravessando as noites engrossamos a substância de um recipiente ilimitado de sensações e dados.
Se faço com o que sinto e experimento um resultado negativo, a expressão não me deleita. Se positivo é o resultado, parar de ler, ouvir e ver, não quero mais. E as estantes já estão cheias e todos os rascunhos preenchidos.
a minha parte arte.
Se já não suporto estes sapatos e a armadura que me vestem
a minha parte arte
Se porém, atravessando uma noite aquela estrela, uma estrela me pedir uma prova? A que parte vou pertencer? Já tenho dados e sensações. As duas partes me cabem ter. Ilimitado aprender, ser.


Juliana


A 40ª edição do Festival de Inverno da UFMG tem o tema Arte: Essencial. Na página de apresentação, um texto claro como os relatórios científicos; bem tratado como uma obra de arte. Em uma de suas passagens, referência a duas noções intrínsecas à Universidade: produções científica e artística, regra e criação.


Vida, ciência e arte: todas se nutrem do mesmo húmus, a curiosidade humana, a criatividade, o desejo de experimentar. Todas são condicionadas por sua história e seu contexto. Todas estão imersas na cultura, mas imaginam e agem sobre o mundo com olhares, objetivos e meios diversos.


O diretor científico da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), em entrevista à Folha de São Paulo (reportagem de Eduardo Geraque), reflete sobre a missão básica da universidade, que não seria gerar inovação tecnológica, tampouco resolver problemas sociais, mas educar. Assim, ele estabelece sua posição contrária à visão utilitária da universidade e afirma que ela contribui na formação de recursos humanos.


Não temos de ficar perguntando para que serve aquela pesquisa, que problema ela vai resolver. Que utilidade tem descobrir que a idade do Universo é 13,7 bilhões de anos? Se procurarmos utilidade disso em termos de geração de empregos, não vamos achar. Responder a perguntas sobre a literatura, por exemplo, apenas a academia pode fazer. Nenhuma indústria vai querer estudar isso. A universidade no Brasil precisa recuperar a convicção, que já teve um dia, de que avançar o conhecimento e educar bem os estudantes é a contribuição que a sociedade espera dela. As pessoas, depois, poderão ser usadas tanto na indústria quanto nos institutos públicos.

Foto: Juliana.