sexta-feira, 13 de junho de 2008

Imprevisível

A Dona vida prega peças, a gente já sabe.
Mas não se sabe a hora em que isso vai acontecer. Daí, o susto é inevitável, às vezes bom, outras, nem tanto. Mas essa surpresa sempre leva a reflexões, é só uma questão de colocá-las em prática. Vivendo e aprendendo. De quem será essa frase? Ou é um ditado popular, vindo da sabedoria coletiva? O que sei é que, realmente, a cada dia, ao sairmos para (me permita, mestre) matar o leão diário, algo inesperado pode acontecer.

Convido uma colega de faculdade para o forró de quinta à noite, ela se anima e diz que vai chamar mais pessoas. Na quarta, diz que não vai porque acorda cedo na sexta. Me bate um início de mudança de idéia, quase desisto de ir sozinha, penso na volta, sem ônibus circulando, sem carona, com taxímetros desesperados rodando nas ruas. O corte de cabelo me levou 30 reais, fiquei com 20. Ainda tenho que pagar a entrada e o guarda-volumes, para pôr meu caderno, minha pasta de plástico com folhas de papel que os professores entregam, meu livro de latim, minha bolsa gigante contendo garrafa de água, bolsinha de “primeiros socorros” (com fio dental, absorventes, remédio para dor de cabeça, para cólica, pinça, colírio, esparadrapo, lenço de papel, Halls preto), celular, chave, carteira, outra carteira, bolsinha de moedas, lapiseira, borracha e caneta. Há, ainda, minha jaqueta jeans para guardar.

Durante a aula de latim, envio mensagem a um amigo, na intenção de que ele me arranjasse uma companhia. Sem resposta.
Saio da aula e encontro uma amiga no ponto.
_Vamos pro forrozim, Aiko!
_Não, eu não sei dançar!
Ela senta ao meu lado no ônibus e eu insisto só mais uma vez. Nada.

Abro a bolsa gigante, pego a sapatilha, troco a sandália. Dou sinal e desço no ponto em frente ao Ziriguidum.

Há pessoas na porta. Fico com vergonha dos meus óculos, do meu cabelo cortado, da bolsa gigante. Entro, na cara e na coragem. Ganho pirulito e cortesias para o forró no Espaço Brasil. Me dirijo ao guarda-volumes. Me dirijo ao banheiro. Troco a blusa, passo gloss. Vou novamente ao guarda-volumes, guardo tudo.

Fico em pé, de braços cruzados, em um canto. O mais corajoso dos homens me chama para dançar. Ele está descalço e desliza no chão. A banda começa a tocar. Danço com vários pares, inclusive com um angolano que fala kimbundo. Um deles diz:

_Você vem sempre no Ziriguidum?
_Não, porque é muito longe da minha casa.
_Onde você mora?
Respondo.
_Nós somos vizinhos, eu moro na Inconfidentes.

Durante a próxima hora, fico dançando com outros pés-de-serra e pensando em como perguntar ao morador da Savassi: Você veio de quê? Mas pareceria muito interesseiro da minha parte.
Ele me tira novamente para dançar.
_Olha, Juliana, se você quiser carona para voltar... você não me conhece, eu não te conheço, mas...
_Eu quero!
De qualquer forma, encontro o Rubens, que sempre vai lá. Mas ontem eu estava a fim de ir embora mais cedo, o que não acontece quando se está de carona com ele.

Ali naquele lugar havia uma interação muito humana entre os presentes. A impressão que dava era de que todos haviam ido de coração aberto, para se relacionar com o próprio corpo, por meio da dança, para relaxar, para esquecer de tudo e lavar a alma. Ainda existem pessoas confiáveis, autênticas, “na delas”, gentis. Imprevisto. Que beleza sentir essa sensação boa, desde que cheguei sã e salva em casa.

Hoje pela manhã, o susto. Acordei tarde e, apesar do bilhete para que me acordasse, minha colega de trabalho, a pessoa mais delicada, de tranquilidade mais inabalável que conheço, chamou minha atenção por eu não estar de pé na hora combinada. Ela está coberta de razão.

E eu, aprendendo.
A vida é um imprevisto. Criei um provérbio.

2 comentários:

!!Ateliê de Cerâmica!! disse...

Minha amiga Ju,
Poderia ter comentado no texto que nos diz respeito, que me leva a viajens de memória, mas não. Porque aqui percebi a amiga que conheço, corajosa, livre, que se joga na vida e por isso é tão especial.
Quanto ao texto nostálgico, me lembra que pessoas especiais mesmo aquelas que se vão, nos largam aprendizados e histórias. São tantas, tanas...
Bejo lotado de saudades
Peinha

Gabriela Galvão disse...

Uai, ñ t zoei, ñ?! ihihihihih: levou um torra!!! huahuhauhah


Bz!