quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

a prova

Numa daquelas casas ali morava Analu. Menina de família bem de vida, menina educada, pura ingenuidade, mas tão indefesa, tão indefesa... tal qual o coleirinho criado cativo. Analu não tinha o que pudesse desencadear em seu organismo o estímulo para o envio de uma mensagem ao cérebro, que fizesse com que uma frase de reação fosse formulada e as palavras desta frase se tornassem som, produzido pela vibração de suas cordas vocais, junto ao movimento de língua, lábios e dentes. Ela não se defendia. Não se revoltava, não se abalava diante das chacotas que lhe eram oferecidas gratuitamente todas as vezes em que contava seus casos. Muitas vezes as gozações eram feitas às suas costas- dentro das casas ou nas rodas de estudo, quando de uma dispersão dos estudantes -é verdade. De qualquer forma, Analu era alheia e não se importava que acreditassem ou desacreditassem em seus casos. Não houve vez em que demonstrasse desejo de provar que o que estava contando era verídico. Até que um dia, o... bem, primeiro contarei umas duas estórias dessa menina, que você vai achar até que ela devia estar no hospício.

Disse ela que uns turistas de uma praia muito exótica no oceano Pacífico estavam bem contentes e folgados em suas luas-de-mel, férias e recessos, quando uma onda gigante de cinco metros subiu da arrebentação. As águas levaram pessoas, carros, casas, vacas, pianos, tudo o que estava no caminho entre o esticar da onda e o seu recolher. Não é demais? Cinco metros? Então. Pois contou, também, Analu, que uma criatura com uma cabeça, seis braços com trinta dedos e quatro olhos tocou a zabumba, o triângulo e a sanfona aos pés de sua janela e da catuabeira. Mais tarde, a criatura pegou ainda a rabeca e desandou a xaxar.

Pois um dia, foi aí, foi nesse dia que a Analu teve um estalo. As implicâncias entraram em seu ouvido externo, viajaram lá para dentro da caixola, um pouquinho delas foi para o fígado, outro pro coração, um tiquinho saiu pelo outro ouvido, danaram a fazer volta dentro da caixola, estimularam o cérebro, o qual ordenou que uma mensagem fosse dita pela voz de Analu aos descrentes.

– E-e-e-e-i-ta! Rapaz, e qual foi a mensagem?


A menina olhou sem expressão para quem lhe chacoteava pedindo provas do que ela dizia e afirmou:


– Eu vi.

Conto dedicado ao Grupo pernambucano
Comadre Florzinha


segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Via ECT

Gosto muito de um determinado site cultural, mas não gosto nada das suas profecias e "constatações", do tipo: como mídia, o rádio está morto ou o e-mail está enterrado...

Hoje é dia do carteiro e por ter-lhes um imenso carinho, vou aqui prestar uma homenagem a esses profissionais que fazem um trabalho tão importante (principalmente agora, no século XXI, em que o universo virtual encurta tanto nosso contato com as pessoas que ainda não o exploraram. São, muitas vezes, pessoas idosas, pessoas sem instrução ou sem acesso. Elas não têm oportunidade de verem nossas fotos digitais, lerem nossos textos eletrônicos, etc.).

Contra todos os ataques à correspondência selada e em defesa das caixas de correio físicas ou "analógicas", reproduzo o texto postado no blog escritabrasil:

Outro dia, li, em um site, um texto sobre o fim do e-mail, que, segundo o autor, estaria muito próximo. Nesse dia, esse meio de comunicação já teria se tornado "tão relevante quanto uma carta manuscrita, dentro de um envelope selado". Às vezes as pessoas se esquecem de que certos costumes e experiências culturais e sociais continuam a existir fora do eixo pontocom.

Isso porque não conhecem a Senhora Zelma, minha mãe! Ela sempre teve a família (minha avó e tios) longe, lá em Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe. O hábito de escrever cartas e cartões postais é tradicional e valioso para ela. É uma forma de dizer o que não dá tempo em um telefonema; detalhes e sensações difíceis de expressar quando se está preocupado com a conta de interurbano e com os ouvidos das paredes.

As cartas da mamãe são cheias de surpresas gostosas: fotos, recortes de jornal... doces palavras. Aliás, ela escreve tão bem que recebe convites para redigir discursos familiares e dizeres de cartões formais. Sua escrita possui a personalidade de seu bordado, que, antes de ficar pronto, por meio de um trabalho cuidadoso e de arremates firmes, já se encontra projetado em sua imaginação. O estilo se mostra nas linhas - da letra e do tecido - enquanto o ofício, se esconde nos rascunhos e moldes.

Selar um envelope e caminhar aos correios é um dos melhores prazeres! Em minha adolescência, no interior de Minas, chegava a receber quatro deles de uma vez! Todos de minhas amigas que moravam em Vitória. Na frente da casa, sem muros nem grades, havia uma caixinha de correspondência, fechada à chave, verificada todos os dias.

Minha melhor amiga de infância mora em Londres. Ela bem podia comunicar seu endereço novo por e-mail. Ao invés disso, enviou lindos cartões, by airmail, às pessoas estimadas que deixou no Brasil.

A tecnologia evolui, novos meios surgem para que a velocidade de trabalho aumente e para que as distâncias se encurtem de alguma forma. Nos adaptamos a eles e a vida melhora. No entanto, uma carta manuscrita jamais será irrelevante.

Parabéns pelo dia do carteiro!

sábado, 23 de janeiro de 2010

inauguração

Foto: Flickr
as duas forças responsáveis pela eclosão de novos mundos: conhecimento e amor

in: contos do mal errante, escritora maria gabriela llansol

inaugurar o blog no ano de 2010. ainda não descarregamos a foto do wrap que meu gourmet fez no começo desta semana, em que cheguei depois de um mês em Vitória, naquela delícia de praia, enfrentando a barra que é a vida, com os espinhos e espumas...então, o primeiro passo será dado com esta frase que encontrei anotada aqui ontem, quando fazia uma geral no 'escritório' (as gavetas da mesa do computador e a caixa de bombons em que guardo os comprovantes do visaelectron, de depósitos e os extratos). Joguei um monte de papel fora e deixei este e uns outros que considerei aproveitáveis.

em uma conversa com minha irmã nestas férias, eu confidenciei um projeto de vida para quando não houver mais nada interessante. vi um homem na tv, programa Brasil das Gerais, na Rede Minas. É encantador o que ele faz. eu já sei para onde ir quando me aposentar, ou quando quiser chutar o balde (de novo). a direção será o norte de Minas. o Tião sempre diz que na vida a gente só tem que ter uma coisa: saúde. o resto, a gente tem que ser: ser feliz, ser livre e ser educado.

"Ah, se eu ganhar na mega-sena eu vou ajudar um lar de velhinhos, uma instituição que cuida de animais e encaminha para adoção..." por que a gente precisa ganhar na mega-sena para fazer isso? a gente não pode fazer isso agora?

Bi, aquele seu projeto de passar o Natal de modo diferente daqui em diante...eu tô dentro, viu?

e por que esperar para ir visitar o Tião? minha breve parada será Araçuaí.

um beijo