terça-feira, 24 de junho de 2008

Futebol

As Copas do mundo, na minha infância, eram muito alegres. As pessoas faziam pinturas super bem feitas nas ruas. As crianças também ajudavam, pintando o mascote (me lembro do Laranjito!) ou liberando a criatividade. A gente torcia com muita paixão.

Na adolescência, havia aquele esquema de ir para o clube assistir ao jogo e depois, para algum point em que rolava paquera. Na faculdade, a reunião era em alguma República (uma vez, por acaso, disponibilizei a minha e, quando minhas companheiras chegaram em casa, o chão era pura pipoca e eu já estava lá na rua dançando e gritando).

Hoje me lembrei de tudo isso, enquanto ouvia a entrevista com o José Miguel Wisnik. Ele é, como a maioria dos brasileiros, apaixonado por futebol e disse não torcer para que o Brasil fique fora da próxima Copa.

Bom, o que me chamou muito a atenção foi um pedaço da entrevista em que ele disse algo sobre os Estados Unidos. Este país conseguiu incutir no mundo inteiro o hábito "coca-cola, fast-food, hollywood", mas... o beisebol e o futebol americano não tiveram o mesmo êxito em se difundir. Da mesma maneira, o futebol, para eles, não tem importância. O professor fez uma observação muito interessante, que é a seguinte: o futebol lida com o imprevisto. A bola, por exemplo, escapa do domínio dos jogadores, é chutada para bem longe, não intencionalmente; sai, muitas vezes, dos limites do campo, etc. Ela rola, às vezes, durante muito tempo, sem que o placar se mova e, mesmo assim, a partida causa apreensão e vibração na torcida. Os jogos "de duelo", como vôlei e basquete, em que existem, basicamente, ataque e defesa, e que, a todo o momento, se pontua, não alcançam, no Brasil, a mesma popularidade do futebol. Os Estados Unidos não estão preparados para o zero a zero. Em tudo o que se faz, espera-se alguma produção.

Há um bom tempo (acho que, desde que Zagallo era técnico da seleção), ouço dizer, sem discordar, que o futebol se tranformou em uma empresa. Os torcedores são consumidores, as camisas e os jogadores são outdoors e os clubes são organizações selvagens e corruptas. O troca-troca de times, feito pelos profissionais, torna essa questão bem clara, uma vez que o valor dos contratos e não, a fé no time, é o que vale para que um jogador esteja em determinado clube.

Tenho muita pena das pessoas que se deslocam de lugares distantes, viajam em ônibus precários, por estradas perigosas, para marcarem presença na torcida. O último jogo do Brasil contra a Argentina foi insatisfatório com relação à atuação da seleção brasileira. Fazia um frio danado em Belo Horizonte, era tarde da noite, mas o estádio estava lotado. Até liguei a tv para assistir, porém, a confiança já se foi. Acho que ficou lá na Copa de 1998. Depois disso, minguou para mim. Uma situação que me faz desanimar é a violência nas torcidas. É realmente horroroso o comportamento das pessoas que se deixam ficar fanáticas, ou, talvez, como em um estado de adicção, se tornam fanáticas, sem perceber que isso não as leva a nada (de proveitoso). São aqueles que se dão ao trabalho de esperar jogadores em aeroportos para agredí-los.

Bom, José Miguel Wisnik compara esse esporte à poesia, na medida que os dribles, os passes, os movimentos em campo, lembram o momento da criação de um poema.

Assim, a arte ainda existe, em meio à lama do mundo do futebol (e, na verdade, o mundo, em certos aspectos - muitos - está um verdadeiro lamaçal). O esporte, como invenção humana, também carrega o lado mal e o bom. Só que é necessário apreciá-lo na medida certa. Sem passar do amarelo, o aviso.

http://www.chicobuarque.com.br/construcao/index.html
(link para encontrar a música O futebol, clicando em "canções / por título")

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