sábado, 19 de julho de 2008

Brincadeira de menina

A menina saía de casa domingo pela manhã, antes dos irmãos despertarem e, por acaso, sem que os pais percebessem.

O portão da casa não ficava cadeado. Passava por ele, mas, antes, pelo cachorro, que, em duas patas, a enfeitava.

Ia sozinha até a igreja.

Ela descia contente a ladeira de sua rua asfaltada em direção à sua brincadeira.

Havia apenas uma faixa de pedestres para atravessar.

A menina, então, estava na porta do lugar com escadas compridas, que dava para muita gente entrar de uma vez, tapete vermelho dividindo lados direito e esquerdo, casinha de madeira com cadeirinha e cortininha. “Como eles conseguiram desenhar no teto?” A imagem da qual ela mais gostava era a de Nossa Senhora. Bonita, azul. Os vitrais das janelas também eram bonitos: coloridos.

Assistia à missa, quietinha, cantava as partes das músicas que já havia decorado, por se repetirem todos os domingos.

Acompanhava a procissão das pessoas no momento da Eucaristia, mas não podia seguí-las, pois ainda faltavam alguns anos para sua primeira comunhão.

Repetia os gestos do padre na bênção final: “Em nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo, Amém. Ide em paz e o Senhor vos acompanhe.”

A menina, então, esperava toda a paróquia se retirar, até mesmo as mais carolas que ficavam lá ajoelhadas mais um pouco, ou de pé proseando umas com as outras ou com o sacristão. E aquelas que ficavam para fazerem perguntas ao padre. Esvaziada a igreja, ela começava do banco lá de trás:

recolhia folhetos deixados nos encostos, empilhava-os, guardava em cima da mesa, pegava velas e ornamentos, ajudando a organizar o altar para a próxima celebração.

A menina casou-se aos 31. Não queria se casar. O fez mais para agradar aos pais. Foi só no cartório. No outro dia, fez um churrasco com cerveja.

Um comentário:

Gabriela Galvão disse...

Ish 31... Tô quase lah... Meda! huahuhauuahuahah