sábado, 11 de abril de 2009

Confiar

Com um ritmo maquinalmente marcado, o rapaz fala:
"Bom dia, senhores passageiros. Meu nome é Carlos, tenho 17 anos. Sei que quando entramos no ônibus, muitas vezes causamos transtorno na vida das pessoas, mas esta foi a única forma que encontrei de ganhar meu dinheirinho honestamente (dá o preço das balas). Agradeço ao motorista e ao trocador, que me deram a oportunidade e a todos pela atenção. Tenham um bom dia e uma ótima quarta-feira."

Eu presto muita atenção no Carlos desde o primeiro dia em que o vi no 5102, em 2007. Ele é muito inteligente, sei disso sem conhecê-lo porque sabe aquele menino que tem uma cara esperta? Parece que ele tem uma intimidade com o transporte coletivo, como se desde a infância tivesse convivido no meio, andando de ônibus pra lá e pra cá. O modo como ele se relaciona com as partes do veículo (barras, roleta, portas, sinal etc.), o modo como se ajeita lá na frente para conversar com o motorista dão essa impressão. Além disso, ele conhece todos os funcionários, os chama pelo nome.

Bom, eu nunca comprei nada dele.

Uma vez, ao ir embora da faculdade, à noite, me surpreendi quando, ao entar no ônibus e fazer o pagamento da passagem, vi que o trocador era o Carlos.

Eu dei um imenso sorriso e disse a ele: "Nossa, que chique!" Ele riu de volta, eu paguei e fui me sentar.

Passados alguns meses, ele entra no 5102 ali na Av. Catalão e acontece a situação descrita no início do post, como "nos velhos tempos", antes de o Carlos ser trocador.

Enquanto ele falava- e eu, como de costume, prestei atenção -, eu pensava: "você tem 17 anos desde 2007, quando entrei na faculdade de Letras; não, esta não foi a única forma que você encontrou de ganhar seu dinheirinho honestamente".

Fiquei querendo perguntar o que tinha acontecido, se ele havia saído da empresa de transporte... pensei: "quando ele passar aqui no meu lugar, vou perguntar".

Mas sei lá, fiquei tímida e aí não rolou. Fiquei na minha e pronto.
Justificar
O Carlos saltou e eu segui viagem.

2 comentários:

Gabriela Galvão disse...

Q história! Pô, d esperto p malandro tem uma diferença...

Ele podia ter mudado o txt, pelo menos. Vc ñ substimou a inteligência dele, mas o contrário ñ eh verdadeiro. Ou ele acha q ngm lembraria dele. E d seu discurso.

erotico disse...

Menina, e fiquei muito curiosa... Tente encontrar com ele novamente.
Um beijo,
L.