Tem dias em que não vejo sentido nisso tudo. Outros há em que vejo todo o sentido e o sabor na experienciação de passar pela existência.
Hoje era um desses dias em que percebo a fascinação que o ser humano possui intrinsecamente. Esse fascínio pode ser exercido no outro, caso este esteja com os olhos (não os relacionados à informação visual processada pelo lobo occipital) bem abertos.
Pela manhã, reguei as margaridas, lavei pratos, xícaras e talheres. Atendi o telefone, era meu pai. Fui ao sapateiro. À tarde, cheguei cedo ao trabalho e, casualmente, topei com um texto que me emocionou. Era o relato da Ana Elisa Ribeiro sobre o dia do lançamento de seu terceiro e mais recente livro. Inspirada, fiz meu prazeroso trabalho de postagem de conteúdo em uma seção de resenhas literárias no site do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (CEALE-FaE/UFMG), além de buscar imagens de capas de livros, contatar pessoas agradáveis e interessantes e fechar a sala com uma boa sensação de "dia produtivo". Depois de fazer um lanche em um horário em que a cantina está ainda tranquila, cruzei a roleta da faculdade, em direção ao prédio em que começa a minha noite, o da faculdade de Letras.
Cruzo, então, com duas senhoras de idade em torno de 70 anos. Uma delas, vestia uma blusa com a sigla Proef (Programa do Ensino Fundamental, ou algo assim). Imediatamente, pensei na sabedoria que aquelas mulheres possuem, um conhecimento que, talvez, o jovem professor do Proef ainda não acumulou. Elas já passaram por experiências tais como a criação de filhos, a opressão masculina e a privação cultural. Hoje, saem de lugares às vezes distantes e chegam à sala de aula para aprenderem o que não tiveram a oportunidade de fazê-lo há anos. Isso é um dos pedaços premiados da vida, que, quando temos a sorte de encontrar, nos lembramos de que o ser humano possui alguma grandeza.
Em entrevista a Roberto D´Ávila, a grande historiadora Mary Del Priori salientou que entrou para a faculdade já com três filhos, fez vestibular amamentando. Sua intenção foi dizer que não há idade para se descobrir a verdadeira paixão, ou para viabilizá-la. O notável e delicioso está em concretizar e viver o sonho.
Ao final da minha segunda aula, a sala já sem ninguém e a professora de saída, faço a ela uma pergunta, respondida por um colega, o qual a turma inteira é unânime em classificar como, no mínimo, inconveniente. Eu, impacientemente, digo que depois faria a pergunta, longe dele. A ira me subiu à garganta. Um amigo perguntou se eu estava "de TPM", me abraçou e disse: "Você está precisando de amor." No ônibus, sentei no lugar reservado aos idosos, lá na frente, na janela, com a cabeça virada o tempo inteiro para fora, na direção contrária à dos outros passageiros, querendo chorar, gritar, explodir.
O dia havia se transformado em um daqueles desesperançosos. Cheguei em casa com a velha pergunta no pensamento:
Qual o sentido disso tudo?
quarta-feira, 28 de maio de 2008
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